ATA DA VIGÉSIMA SÉTIMA SESSÃO SOLENE DA QUARTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 03-8-2000.

 


Aos três dias do mês de agosto do ano dois mil reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezessete horas e quarenta e dois minutos, constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Gilberto Schwartsmann e à entrega do Prêmio de Ciência e Tecnologia Mário Schenberg à Fundação SOAD de Pesquisa do Câncer - South American Office for Anticancer Drug Development, nos termos, respectivamente, do Projeto de Lei do Legislativo nº 036/00 (Processo nº 0656/00), de autoria do Vereador Isaac Ainhorn, e do Projeto de Resolução nº 022/99 (Processo nº 1541/99), de autoria do Vereador Pedro Américo Leal. Compuseram a MESA: o Vereador Paulo Brum, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, em exercício; o Senhor Humberto Ruga, Presidente do Conselho de Curadores da Fundação SOAD de Pesquisa do Câncer; o Senhor Hiran Silveira Lucas, representante da Academia Nacional de Medicina; o Coronel Irani Siqueira, representante do Comando Militar do Sul; o Jornalista Lauro Quadros, Presidente do Conselho do Instituto do Câncer Infantil; o Senhor Luiz Felipe Lima de Magalhães, representante da reitoria da Universidade Luterana do Brasil - ULBRA; o Senhor Mário Anspach, Presidente da Federação Israelita do Rio Grande do Sul; o Senhor Gilberto Schwartsmann, Homenageado; o Vereador Isaac Ainhorn, na ocasião, Secretário "ad hoc". A seguir, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem o Hino Nacional Brasileiro, executado pela Fanfarra do 3º Regimento de Cavalaria de Guarda - RCG, sob a regência do Capitão Ezequiel Português de Souza e, após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Pedro Américo Leal, como proponente da concessão do Prêmio de Ciência e Tecnologia Mário Schenberg à Fundação SOAD de Pesquisa do Câncer e em nome das Bancadas do PPB, PDT, PTB, PSB e PFL, historiou dados atinentes ao surgimento e às atividades realizadas por essa Fundação, salientando a relevância do trabalho por ela desenvolvido na busca de terapias eficientes para a cura do câncer e destacando a atuação do Senhor Gilberto Schwartsmann no ramo da oncologia. Na oportunidade, foram registradas as seguintes presenças, como extensão da Mesa: da Senhora Leonor Schwartsmann, esposa do Homenageado; dos Senhores Guilherme e Laura Schwartsmann, filhos do Homenageado; da Senhora Maria Schwartsmann, mãe do Homenageado; do Senhor Simão Schwartsmann, pai do Homenageado; do Senhor Telmo Kruse, Presidente do Conselho de Cidadãos Honorários de Porto Alegre; da Senhora Luciana Tannauser, representante do Instituto da Criança com Diabetes do Rio Grande do Sul; da Senhora Rita Burd; do Grupo Sara  Barcait; de representantes da Na’Amat Pioneiras; dos Senhores Carlos Henrique Menke e Pedro Gus, representantes da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS; de representantes da indústria farmacêutica; do Senhor Valmir Ernandorena, Vereador do município de Barra do Ribeiro - RS; do Senhor Éverson Luiz Zingano, Presidente do Sindicato dos Oncologistas; dos Senhores Samuel Burd e Bóris Wanstein, respectivamente Presidente e Vice-Presidente do Conselho das Entidades Israelitas; do Senhor Pedro Butisnall, representante da Fundação SOAD de Pesquisa do Câncer - São Paulo; da Senhora Patrícia Sanchotene Pacheco, Delegada de Polícia do município de Triunfo - RS; da Senhora Mônica Leal; do Senhor Luciano Moreira, representante do Curso de Medicina da Universidade Luterana do Brasil – ULBRA; do Senhor Paulo Eduardo Pizao, representante da Universidade de Campinas; da Senhora Nise Yamagushi, representante da Universidade de São Paulo e da Sociedade Brasileira de Cancerologia; do Senhor Pio Furtado, representante da Sociedade de Cancerologia do Rio Grande do Sul; da Senhora Lurdes Lemos Almeida, representante do Ministério da Saúde; do Senhor Ignacio Musé, representante da Sociedade Uruguaia de Cancerologia; do Senhor Guillermo Temperley, representante da Sociedade Argentina de Oncologia; da Senhora Maira Caleffi, representante do Instituto da Mama do Rio Grande do Sul; do Senhor Ricardo Malcon, Cônsul Honorário do Líbano; do Padre José Mangoni, representante da Sociedade Pobres Servos da Divina Providência, mantenedora do Albergue João Paulo II; de amigos, parentes e convidados do Senhor Gilberto Schwartsmann. A seguir, foi dada continuidade às manifestações dos Senhores Vereadores. O Vereador Isaac Ainhorn, como proponente da concessão do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Gilberto Schwartsmann e em nome das Bancadas do PPB, PDT, PTB, PSB e PFL, discorreu sobre aspectos relativos à vida e à atividade profissional desenvolvida pelo Homenageado, notadamente quanto à pesquisa de novos medicamentos voltados ao tratamento do câncer. Também, exaltou o trabalho realizado pela Fundação SOAD de Pesquisa do Câncer no Estado do Rio Grande do Sul. O Vereador Adeli Sell, em nome da Bancada do PT, destacou a relevância das atividades desenvolvidas pelo Senhor Gilberto Schwartsmann com vistas à busca de novos tratamentos para o combate ao câncer. Ainda, salientou a justeza da concessão do Prêmio de Ciência e Tecnologia Mário Schenberg à Fundação SOAD de Pesquisa do Câncer. O Vereador Cláudio Sebenelo, em nome da Bancada do PSDB, saudou o Senhor Gilberto Schwartsmann pelo recebimento do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre, mencionando a dedicação sempre demonstrada pelo Homenageado na prática de suas atividades profissionais. Também, elogiou o trabalho realizado pela Fundação SOAD de Pesquisa do Câncer. A Vereadora Clênia Maranhão, em nome da Bancada do PMDB, abordou aspectos atinentes aos esforços  empreendidos  pelo  Senhor  Gilberto  Schwartsmann  para a descoberta e o desenvolvimento de tratamentos eficientes contra o câncer. Ainda, destacou a relevância dos serviços prestados pela Fundação SOAD de Pesquisa do Câncer à sociedade porto-alegrense e gaúcha. O Vereador Lauro Hagemann, em nome da Bancada do PPS, cumprimentou o Senhor Gilberto Schwartsmann pelo Título hoje recebido, declarando que a presente homenagem significa o reconhecimento da Cidade de Porto Alegre ao trabalho realizado pelo Homenageado. Também, comentou dados relativos à atuação da Fundação SOAD de Pesquisa do Câncer no cenário médico brasileiro. Em continuidade, o Senhor Presidente convidou o Vereador Isaac Ainhorn e a Senhora Eleonor Schwartsmann a procederem à entrega, ao Senhor Gilberto Schwartsmann, do Diploma referente ao Título Honorífico de  Cidadão de Porto Alegre. Após, o Senhor Presidente convidou o Vereador Pedro Américo Leal a proceder à entrega da Medalha de Porto Alegre ao Senhor Gilberto Schwartsmann e convidou a Senhora Mônica Leal a realizar a entrega de flores à Senhora Eleonor Schwartsmann. A seguir, o Senhor Presidente convidou o Vereador Pedro Américo Leal a proceder à entrega, ao Senhor Humberto Ruga, Presidente do Conselho de Curadores da Fundação SOAD de Pesquisa do Câncer, do Diploma relativo ao Prêmio de Ciência e Tecnologia Mário Schenberg. Em prosseguimento, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Gilberto Schwartsmann, que agradeceu o Título recebido, e ao Senhor Humberto Ruga, que agradeceu a homenagem hoje prestada por este Legislativo à Fundação SOAD de Pesquisa do Câncer. Após, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem o Hino Rio-Grandense, executado pela Fanfarra do 3º Regimento de Cavalaria de Guarda - RCG, sob a regência do Primeiro-Sargento Sílvio Luiz da Silveira Machado e, nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os trabalhos às dezenove horas e dezoito minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Paulo Brum e secretariados pelo Vereador Isaac Ainhorn, como Secretário "ad hoc". Do que eu, Isaac Ainhorn, Secretário "ad hoc", determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 

 


O SR. PRESIDENTE (Paulo Brum): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada a entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Dr. Gilberto Schwartsmann e Prêmio de Ciências e Tecnologia Mário Schenberg à Fundação SOAD – South American Office for Anticancer Drug Development.

O Ver. Isaac Ainhorn é o proponente do Título de Cidadão ao Dr. Gilberto Schwartsmann e o Dr. Pedro Américo Leal é o proponente do Prêmio de Ciência e Tecnologia Mário Schenberg à Fundação SOAD.

Convidamos para compor a Mesa o homenageado, Dr. Gilberto Schwartsmann; o Presidente do Conselho de Curadores da Fundação SOAD de Pesquisa do Câncer e, também, Presidente da FEDERASUL, o Sr. Humberto Ruga; o representante da Academia Nacional de Medicina, o Acadêmico Professor Hiran Silveira Lucas; o representante do Comando Militar do Sul, Cel. Irani Siqueira; o Sr. Presidente do Conselho do Instituto do Câncer Infantil, Jornalista Lauro Quadros; representante da Reitoria da ULBRA, Sr. Luiz Felipe Lima de Magalhães e o Presidente da Federação Israelita do Rio Grande do Sul, Dr. Mário Anspach.

Convidamos a todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional, que será executado pela Fanfarra do 3º RCG, sob a regência do Capitão Ezequiel Português de Souza.

 

(É executado o Hino Nacional.)

 

Os Vereadores Isaac Ainhorn e Pedro Américo Leal, nas suas manifestações, também falarão em nome das Bancadas do PDT, PPB, PTB, PSB e PFL.

O Ver. Pedro Américo Leal está com a palavra.

 

O SR. PEDRO AMÉRICO LEAL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Meus senhores, minhas senhoras que nos brindam hoje com as presenças, o mal espreita a criatura humana incessantemente ameaçando-a, repetindo o desafio eterno dos séculos: “ou me decifras ou te devoro”. Em tudo há esse desafio. Algum dia, em algum lugar, alguém como personagem lá da lenda, sob inspiração divina, exibirá uma resposta, tenho certeza, mostrando a fórmula no combate a esse monstro que devora a humanidade: o câncer; assim como a droga, hoje em dia. Enquanto isso não ocorre, nações se mobilizam através de suas intelectualidades cientificas, médicas ou não, arregimentadas para obter um antídoto que possa deter essa serpente silenciosa, de sete cabeças e inúmeras caudas. Laboratórios dos mais avançados países se lançam à luta. Estados Unidos, Japão, nações européias, proporcionando ao mundo descobertas das suas últimas pesquisas no combate a esse monstro silencioso. Mas, um grupo aqui do Rio Grande, despretensioso, engajou-se como escoteiros na jornada de desafio à esfinge, a SOAD. Na América Latina, através dessa gente intelectual e esforçada, lança-se o Rio Grande ao conhecimento de drogas, no achamento de poções, estudos pesquisas que aliviem a humanidade. É um desespero, a luta contra o câncer é um desespero, um desespero científico, intelectual. O câncer ataca a todos, deixa a sua marca através daquela coloração marmórea da pele de sua vítima. Marca inconfundível, e vai tomando posse final de todo o corpo. Não escutamos mais a gargalhada, mas ele ri: “ou me decifras ou te devoro.”

Mas estranhos são os caminhos do Senhor, nesta banda pobre do universo, a América Latina, rica em sua exuberante biodiversidade, repleta de plantas, até de origem marinha, há de surgir uma resposta terapêutica, um alívio para o mal que abate o idoso, o jovem a criança, ele não escolhe, e prossegue indiferente, devorando tudo, ricos e pobres.

Como esquecer do quadro, eu me lembro daquela criança de olhos tristes, desprovida de cabelo - pelos efeitos da quimioterapia -, sentada no leito, vítima do mal que consumia o corpo, o seu corpinho. Vivia uma eternidade. Olhar vago, perdido, despido do viço da mocidade pelo sofrimento, olhar parado, sem fixar nada, inerte, uma criança. Não gosto nem de falar nisso. Invisível, através do seu sangue, inexorável, a doença avançava. O quadro não me saiu da cabeça, não sei se o reproduzo como vi, mas os médicos, os enfermeiros que a acompanhavam, e que acompanham a todos os possuídos desse mal, como reagiam? Eles não são de pedra. Eles sofrem junto. Eles não deixam transparecer, mas a cada uma avançada dessas, a cada baque de uma criatura humana, o médico cai, a enfermeira cai, todos caem.

Pois esse grupo de gente nossa criou, em 1992, uma fundação modesta, a pedir passagem aqui do Rio Grande do Sul: “Queremos contribuir, queremos contribuir!”. Surgiu, então, a Fundação Sul-Americana para o Desenvolvimento de Novas Drogas Anti-Câncer. Não há vitória final e definitiva. Há vontades, há ilusões, há desilusões, triunfos que empolgam no prosseguimento dessa resistência, porque é uma resistência. São trocas de conhecimentos, de experiências, proporcionam novos medicamentos através de novas reservas vegetais, que são imensas aqui na América do Sul, no nosso Brasil, somos ricos nisso. Quem sabe onde residirá a resposta? É um mistério. O pequeno lutador cresceu, aprendeu a lutar e é, hoje, a Fundação SOAD - lutar no bom sentido -, reconhecida internacionalmente por publicações científicas, a mais ativa da América Latina na luta contra o câncer, já é uma grande coisa.

É aqui do Rio Grande do Sul, a SOAD é nossa, ela vai tomando topo e top através das premiações que recebe de livro, de participações em eventos internacionais, a ponto de se abrirem, por esses sucessos, portas para brasileiros pesquisarem no exterior. O nosso homenageado, Dr. Gilberto Schwartsmann, é uma prova disso, eu peguei o seu currículo e desisti. Como eu vou transcrever, num discurso, oitenta folhas de cursos? Não de elogios, de cursos.

Como psicólogo que sou, sempre creditei ao câncer - perdoem-me os médicos -, como professor de Clínica da PUC que fui, uma forte carga emocional e psicológica. É mental, algo mental. Há trinta anos observo, debela defesas imunológicas, enfraquece resistências, aparece como fruto de decepções, de prolongadas frustrações, onde certa parte do corpo, quem sabe, a mais frágil, o mal se encaminha através do meio líquido do sangue e explode. Eu só não consegui saber porque atinge as crianças, mas quem somos nós para saber das coisas que ocorrem no mundo. O Taxol foi a grande contribuição de Porto Alegre ao mundo científico, ele prolonga vidas que seriam levadas pelo câncer de pulmão, de ovário, de fígado e de bexiga; é de autoria da nossa SOAD, partiu dela a colaboração para o mundo médico e nós não sabíamos disso. Eu, como Vereador, não sabia.

Nada mais justo do que esta Casa, com o seu colegiado de Vereadores, acorde e conceda o Prêmio Mário Schenberg de Ciência e Tecnologia, iniciativa do Ver. Lauro Hagemann, a estes bravos. Consegui transformar este prêmio, que V. Ex.ª imaginou bianual, em anual. Foi uma guerra neste Plenário. Você se lembra e você me auxiliou.

Acrescentou-se a Decitabina que, talvez, quem sabe, tivesse evitado ou prorrogado, ou o apagar daquele garoto triste de que vos falei e que tanto me impressionou. Quem sabe, se tivesse surgido, ele não tivesse ido tão cedo como foi. A Decitabina foi desenvolvida contra a leucemia, que era o mal do menino, a doença do moço que se foi. Não ficou por aí a caminhada da SOAD.

O Dr. Gilberto Schwartsmann e sua equipe - e sei que ele não quer que eu o destaque no discurso que faço, fui informado disso e por isso eu o poupo - criaram o Ectoposide - não sei se está certo o nome da droga - patente que doaram à SOAD e à causa da luta contra o câncer. Depois, fiquei sabendo que é hábito, e que, via de regra, fazem isso na SOAD - que bonito!

Pois bem, Sr. Humberto Ruga, Presidente Gilberto Schwartsmann e sua equipe, V. S.as comandam essa jornada. Como dizemos na linguagem telegramática da caserna, sempre digo aos meus companheiros, a linguagem da guerra e da caserna é breve, e tem de ser: resista, é pequeno o avanço, mas é. Luta, e se chegamos até aqui, em vitória parcial, aos comandantes vai a mensagem deste grupo, de nós, Vereadores, de todos presentes, desta Casa política: tomada a posição, Dr. Schwartsmann - a linguagem é militar -, avalia as baixas, reconstitua o dispositivo, prossiga na missão, ela é nobre, a humanidade precisa! A bandeira é branca! Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Paulo Brum): Antes de passarmos ao próximo orador, nós queremos citar como extensão de Mesa a esposa do homenageado, Sr.ª Eleonor; filhos do homenageado, Guilherme e Laura; mãe do homenageado, Sr.ª Maria Schwartsmann; o pai, Sr. Simão Schwartsmann; parentes, amigos e demais familiares; O Presidente do Conselho de Cidadãos Honorários, Dr. Telmo Kruze; representante do Instituto da Criança com Diabetes do RS, Sr.ª Luciana Tannauser; Sr.ª Rita Burd; Grupo Sr.ª Sara Barcait; representantes da N’Amat Pioneiras; representante da Faculdade de Medicina da UFRGS, Dr. Carlos Henrique Menke; representantes da indústria farmacêutica; Vereador da Barra do Ribeiro, Sr. Valmir Ernandorena; Presidente do Sindicato dos Oncologistas, Sr. Éverson Luiz Zingano; Presidente do Conselho das Entidades Israelitas, Sr. Samuel Burd; Vice- Presidente do Conselho das Entidades Israelitas, Sr. Bóris Wanstein; representante da SOAD - São Paulo, Sr. Pedro Butisnall; Delegada de Polícia de Triunfo, Dr.ª Patrícia Sanchotene Pacheco; Sr.ª Mônica Leal, amigos e demais convidados.

O Ver. Isaac Ainhorn está com a palavra.

 

O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Algumas razões, no exercício do mandato parlamentar, nos levam e nos contingenciam à concessão do Título de Cidadão de Porto Alegre. Nesta oportunidade, numa situação extremamente singular, fiz a proposta de concessão do título de cidadania porto-alegrense ao Dr. Gilberto Schwartsmann e precedido pelo ilustre Ver. Pedro Américo Leal que apresentara um Projeto de concessão do Prêmio de Ciências e Tecnologia Mário Schenberg à Fundação SOAD presidida pelo Dr. Gilberto Schwartsmann.

É óbvio que ambas as homenagens se conjugam neste momento, razão pela qual nós entendemos que esta solenidade deveria se dar concomitantemente, conjuntamente, foi o que fizemos.

É óbvio que o que nos leva e o que nos motiva a concessão de um título de cidadania, pela fundamentação do próprio título é que aquela pessoa que recebe esse reconhecimento se faz pelos relevantes serviços prestados a nossa Cidade, à Cidade de Porto Alegre. Como referiu o Vereador que me precedeu, o Ver. Pedro Américo Leal, por si só, o currículo que instruiu o Projeto de concessão do título de cidadania, de mais de oitenta páginas, já por si só justificaria a concessão deste título. Mas ele tem razões mais fortes, ele tem razões mais profundas e uma delas, eu diria que ainda, pelo menos culturalmente, a visão que se tem de Porto Alegre e do Rio Grande é uma visão de província e de que as grandes coisas acontecem fora das fronteiras do Rio Grande, no centro do País e nas grandes metrópoles do mundo. Essa é a cultura que existe, e lá no nosso Bom Fim, Dr. Gilberto, muitos amigos nossos migraram e foram para outras paragens, foram para os Estados Unidos, foram para a Europa e a pesquisa científica, o desenvolvimento das suas atividades os manteve naqueles países, naquelas cidades e o senhor fez algo extremamente singular e que não é comum: qualquer país europeu - digo isso com muito orgulho, porque o senhor é uma figura nossa -, qualquer país do mundo gostaria, qualquer grande cidade médica gostaria de tê-lo entre seus colaboradores. No entanto, o senhor abriu mão de cidades européias onde esteve radicado e retornou a sua Porto Alegre. De Passo Fundo a Porto Alegre e ao mundo, e o retorno a Porto Alegre! Isso nos honra e nos distingue e orgulha a todos nós. Eu não precisaria discorrer sobre seu currículo e também, Ver. Pedro Américo Leal, eu estou proibido de fazer as referências, mas o currículo do nosso homenageado nos enche de orgulho: o currículo do grau da dimensão humana, não só o currículo da sua formação, dos seus cursos.

Os Srs. Vereadores hão de colaborar comigo testemunhando: esta Casa cheia não é uma situação comum na concessão de títulos. Hoje nós estamos vivendo um momento de Casa cheia. Como diria o Vereador: “É um clássico”, Dr. Gilberto Schwartsmann. É exatamente isso que está acontecendo hoje, é isso que nós estamos vivenciando, com muita satisfação, e para minha alegria.

Eu não conseguirei fazer a minha manifestação de reconhecimento se não falar da nossa proximidade lá na nossa comunidade. Eu, com dez anos à frente do nosso homenageado, somos vizinhos no nosso Bom Fim. O Gilberto e também o seu irmão, o Carlos Roberto, são orgulhos da nossa rua e do nosso bairro. Mede-se a satisfação dessas figuras extraordinárias, na sua simplicidade, reveladora do perfil e do caráter dessa família extraordinária que são os Schwartsmann, na figura do Sr. Simão e da Dona Maria Schwartsmann. É uma homenagem que nós não poderíamos deixar de fazer nesta oportunidade.

Eu poderia aqui falar de passagens da vida de Gilberto Schwartsmann, desde o Colégio Israelita, passando pelo nosso “Julinho” - eu já havia saído -, formado na Faculdade de Medicina, orador da sua turma, despedindo-se do tradicional prédio da Faculdade de Medicina da UFRGS, no Campus Central, onde pontificou Sarmento Leite, passando para o Hospital de Clínicas, num prédio moderno que foi aguardado por longos anos, e que hoje é o orgulho da nossa Medicina. O problema no Hospital de Clínicas é conseguir entrar; é essa a nossa luta, porque ele é um dos grandes serviços médicos deste País.

Eu poderia referir também a sua presença na Universidade Federal como Professor de Oncologia, como Professor da ULBRA, na sua nova Faculdade. É o oncologista latino-americano com o maior número de artigos científicos produzidos e originais publicados, sobretudo no campo dos novos medicamentos anticâncer. É pós-graduado em Oncologia-Clínica pela Universidade de Londres; Filosofal-Doctor pela Universidade de Amsterdã, e pós-doutorado no campo da pesquisa das drogas anticâncer, através de programa da Comunidade Européia; integra várias outras entidades, mas é importante destacar, hoje, o seu trabalho extraordinário junto ao Hospital de Clínicas e junto à ULBRA, onde pretende implementar o maior centro integrado na luta contra o câncer. Hoje também integra, por indicação do Sr. Ministro da Saúde, o Comitê Executivo para a elaboração de uma política de saúde contra o câncer.

A concessão desse título, neste momento, é um reconhecimento pelo que o Dr. Gilberto já fez por nossa Cidade, pelo Estado, pelo País e pelo mundo, porque pessoas acorrem na busca de seu tratamento e da sua orientação de várias partes do mundo.

Depois que houve o conhecimento de que esta Casa concederia o Título de Cidadão de Porto Alegre ao Dr. Gilberto Schwartsmann, eu recebi inúmeras referências, Dr. Gilberto, na rua, de pessoas que me paravam e me cumprimentavam pelo fato de que a Câmara Municipal havia concedido essa honraria ao senhor. Dou um dado que penso ser uma referência extremamente importante: pessoas de todos os matizes sociais. O senhor tem sido uma pessoa que não faz qualquer distinção no seu trabalho, ao contrário, e esse e o grande desafio, onde vejo que o título não só lhe é dado pelo reconhecimento do que já foi feito, mas também por tudo que ainda se espera da sua contribuição à Cidade, ao País e ao mundo. E o nosso orgulho, de Porto Alegre, pela sua contribuição, disposição, pela sua determinação, pelo seu espírito de transmitir otimismo nos momento de dor, de angústia, com extrema sensibilidade humana e curando muitas pessoas. Levando esse seu trabalho, criando discípulos, pessoas que se integram a essa luta sob todos os aspectos.

Eu sei, por convívio e contato com o senhor que a questão da saúde, da assistência às pessoas, notadamente àquelas que em nossa Cidade, em nosso País, dependem especificamente do Sistema Único de Saúde. Aquelas pessoas que estão com a sua ficha aguardando o atendimento. E sei das contribuições da sua experiência, ainda que extremamente jovem, para que possamos encontrar soluções efetivas dos problemas no atendimento às pessoas que mais dificuldades têm no acesso à saúde. O senhor é uma pessoa extremamente preocupada com isso, com esse caráter social que medicina tem de ter, da sua angústia de quando chega na sua unidade de trabalho, no hospital, e encontra trinta, quarenta pessoas para atender, e tendo sido distribuídas apenas dez fichas, o senhor não poupa esforços do seu conhecimento, da sua experiência e do seu trabalho para, mesmo assim, atender a todas aquelas pessoas em um dos momentos mais difíceis que o ser humano enfrenta, atende-os e os encaminha. Sou testemunha desse seu trabalho e da sua dedicação, dessa relação que o senhor tem - médico e paciente -, relação extremamente próxima, humana, cordial, democrático, procurando atender a todas as pessoas. É algo que também justifica a concessão e o reconhecimento desta Cidade, porque neste momento estamos promovendo, através da representação política de Porto Alegre, o reconhecimento ao seu trabalho, a sua luta. Pelo fato de o senhor, ao invés de ter escolhido, talvez, outros caminhos que também do ponto de vista científico seriam importantes em qualquer ponto em que o senhor se encontrasse, mas o senhor elegeu Porto Alegre para dar continuidade ao seu trabalho.

Por isso o nosso orgulho, o nosso reconhecimento. Porto Alegre, neste momento, ao lhe conceder o Título de Cidadão de Porto Alegre, resgata-lhe um enorme compromisso com a cidadania, com a Cidade e com tudo aquilo que o senhor tem feito por Porto Alegre, pelo Rio Grande e pelo conhecimento humano. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Paulo Brum): Registramos como extensão de Mesa: o Professor Pedro Gus, representando a Faculdade de Medicina da UFRGS; o Professor Luciano Moreira, representando o Curso de Medicina da Universidade Luterana; o Professor Paulo Eduardo Pizao da Universidade de Campinas; a Professora Nise Yamagushi da Universidade de São Paulo e a Sociedade Brasileira de Cancerologia; o Dr. Pio Furtado pela Sociedade de Cancerologia do Rio Grande do Sul; a Sr.ª Lurdes Lemos Almeida pelo Ministério da Saúde; o Prof. Ignácio Musé pela Sociedade Uruguaia de Cancerologia; o Prof. Guillermo Temperley pela Sociedade Argentina de Oncologia; a Dra. Maira Caleffi pelo Instituto da Mama do Rio Grande do Sul; o Sr. Ricardo Malcon, Cônsul Honorário do Líbano; o Padre José Mangoni pela Sociedade Pobres Servos da Divina Providência, mantenedora do Albergue João Paulo II.

O Ver. Adeli Sell está com a palavra em nome de sua Bancada, o PT.

 

O SR. ADELI SELL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Tenho o orgulho e o prazer de manifestar aqui a palavra da Bancada do Partido dos Trabalhadores.

Quando eu olho para a humanidade, vem-me idéia que nos é passada, principalmente na escola, de que o mundo é feito de bravos, de desbravadores. Olho a história do nosso País e me lembro dos bandeirantes, de todos os fatos que aconteceram neste País, dos imigrantes que vieram para cá. Sempre se fala na bravura, principalmente na bravura do povo brasileiro, mas eu penso que se esquecem, muitas vezes, da nossa fragilidade.

Nós, enquanto seres humanos, mulheres, homens, jovens e idosos, somos muito frágeis em alguns momentos da vida, quando nos falta o essencial que é a saúde. Aí nós começamos a enxergar a nossa verdadeira dimensão de seres humanos, os nossos limites, graças a outros bravos, esses, sim, muito bravos, aqueles que se dedicam à Medicina, à causa da saúde, porque só com a sua bravura, com a sua dedicação, com o seu amor ao ser humano e à vida, é que podemos resgatar a própria, superar a imensa fragilidade dos seres humanos, quando doentes, para nos tornar novamente bravos, desbravadores no momento atual e, sem dúvida nenhuma, os desbravadores do futuro.

Dr. Gilberto Schwartsmann, o senhor é um desses bravos, desses valorosos e bravos, homens e mulheres, que cuidam das nossas fragilidades, da saúde do nosso povo. A Fundação SOAD, Sr. Humberto Ruga, e todos aqueles que compõem entidades como a SOAD, o Instituto da Criança com Câncer, Instituto da Criança com Diabetes e tantas entidades que, bravamente, neste mundo em crise, neste País sofrido, nas pessoas que têm dificuldade no atendimento a essa sua grande fragilidade de seres humanos, quando lhes faltam a saúde, a doença, precisam recorrer e recorrem e, felizmente, encontram na sua frente outros bravos, mais bravos, que dão sustentação às nossas vidas.

Por isso, nós todos, hoje, somos muito gratos em poder dar o Prêmio Mário Schenberg à Fundação SOAD. E nós estamos muito felizes, como Vereadores desta Cidade, representando o povo de Porto Alegre, poder abraçar este bravo e valoroso Dr. Gilberto Schwartsmann. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Paulo Brum): Concedemos a palavra ao Ver. Cláudio Sebenelo, que falará em nome da sua Bancada, o PSDB.

 

O SR. CLÁUDIO SEBENELO: Fica difícil, depois de tantos oradores, falar mais alguma coisa a respeito do Dr. Gilberto Schwartsmann.

Gostaria de me associar, igual ao Pelé, no seu milésimo gol, falando às crianças, ao Instituto do Câncer Infantil, onde, com a licença do Dr. Bruneto, o Dr. Gilberto fez a sua sede e faz um trabalho magnífico.

Ilustre Mesa, caro Gilberto. Bendito seja o regicida que ousa contra os modernos Heródes. Nós hominídeos, com pré-requisitos mínimos de subsistência e autocuidados, passamos longo tempo de nossas vidas com saúde, longe dos remédios e das instituições hospitalares. Quando a escalada da vida se torna descendente, ao fim de muitas décadas, a doença e o fim, repentino ou não, são encarados com uma, ainda, discreta naturalidade. Princípio e fim, inclusive filosóficos, ontológicos de pessoas, animais e coisas. E passamos a fazer parte integrante da natureza, onde “nada se cria e tudo se transforma”. Mas com criança é diferente. Nós, médicos, todos os dias nos deparamos com a ética, (sem ética tudo seria mais fácil, mais primitivo, mais regressivo), com a empatia, entendendo-se como empatia na relação médico-paciente, o médico se colocar no lugar do paciente e saber como o paciente desejaria ser atendido. Enfrentamos as doenças e os doentes, mas muito, principalmente, e muito especialmente a doença da iniquidade (ou a lamentável busca dos porquês das desigualdades). Às vezes quixotescos, enfrentamos a morte (como toda a perda tem a representação da feiura, tem a perplexidade de um esqueleto desnudo. A adultos e velhos, depois do vôo ensandecido que é viver, afinal de contas, com todas as experiências do ciclo vital, é aceitável até uma aterrissagem em cova rasa. Mas ceifar crianças, definitivamente NÃO! O gênio de Camus em “A peste” simboliza a moléstia na forma de um rato, incolor, cinzento, responsável por uma endemia de peste bubônica numa ilha da Riviera Francesa. Peste que atingia a todos. Indistintamente. A metáfora da peste atômica atual, a representação de um apocalipse. Os psiquiatras elegeram os ratos e a cor cinza como símbolo da depressão, mas a doença e a morte de crianças vitimadas pela mais feia, a mais hedionda, a mais lombrosiana das enfermidades, nem pensar, a criança descrita por este inspirado Ver. Pedro Américo Leal, que faz a Gilberto Schwartsmann esta homenagem. De tão repelente, seu “desing” promocional contém toda a abjeção de um caranguejo, literal e prosaicamente, um palavrão: câncer. Aliás, desconfiem de algumas palavras com seis letras. O fim, o caos, o tânatos. Mas, para as crianças, jamais. O Criador já deveria ter feito seu “mea culpa”, por essa cruel licenciosidade da natureza. Pois, Gilberto, o teu trabalho é exatamente nessa arena, nesse cenário. A maldição da moléstia caía sobre as crianças, em geral, até há muito pouco tempo, de forma irreversivelmente letal. Aos poucos, os SOAD da vida vão afrontando o monstro, os Doutores Gilbertos, nas profundezas dos corredores de um hospital, vão caminhando em sentido contrário, promovendo a saúde, a vida, a fortuna inaudita de, como um deus, vencer a morte. Pelo menos, na tenra idade, o seu Instituto passa a ser um porto seguro e alegre dos pacientes com câncer. E, se por acaso, você, Dr. Gilberto, novo cidadão desta Cidade, que tanto lhe deve, por qualquer magia do destino se transformasse em parlamentar, sua raiz médica transformaria a burocracia em realidade, transformaria em lei um sonho, que sei ser seu e de toda a humanidade: “art. 1º: toda a criança é linda, e por isso; art. 2º - fica decretada a sua felicidade geral, ininterrupta e irreversível. Nela é proibida qualquer sensação de dor ou desconforto. São proibidas, também, a doença, a miséria e a fome; art. 3º - revogam-se as disposições em contrário. Plenário do Instituto do Câncer Infantil. Assinado: Dr. Gilberto Schwartsmann - médico, ser humano muito especial, agora cidadão da mais feliz e infantil de todas as cidades, porque tem um Porto, que é um instituto, e é Alegre, como as crianças.” Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Paulo Brum): A Ver.ª Clênia Maranhão está com a palavra para falar em nome do PMDB.

 

A SRA. CLÊNIA MARANHÃO: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Eu queria agradecer ao Ver. Pedro Américo Leal e ao Ver. Isaac Ainhorn pela oportunidade deste momento. Nós, os Vereadores, vivemos um período político peculiar, onde a nossa atuação é extremamente pragmática e imediatista. A nossa condição de parlamentar municipal nos impõe um ritmo de atendimento às coisas mais usuais, a urgência e a sobrecarga dos nossos trabalhos muitas vezes nos distanciam do mundo da ciência, da produção do conhecimento, da tecnologia, das descobertas do mundo acadêmico. Esse ativismo nos leva, muitas vezes, ao erro de uma prática reducionista. Momentos como este nos reportam ao mundo da ciência e nos permitem um link com os que dedicam as suas vidas à construção de soluções aos problemas que afetam a vida das pessoas e constróem o caminho do futuro, reportam-nos aos que fazem da sua prática a promoção da ciência. Isso só pode nos orgulhar, porque partilharmos do momento da homenagem que agora vivemos. Na verdade, a homenagem ao Dr. Gilberto, que nos orgulha, leva-nos a outras homenagens, a tantas mulheres e a tantos homens que constróem as suas ações nas áreas da investigação, da produção do conhecimento, da sua ampliação e, fundamentalmente, da conexão da ciência com a vida das pessoas. Essa homenagem nos permite refletir sobre o significado das descobertas e suas conseqüências para a vida das pessoas. O que seria da nossa prática, se não fosse voltada à construção e reconstrução das vidas?

Eu conversava com o Ver. Cláudio Sebenelo e estávamos um pouco extasiados com a verdadeira multidão que adentrava por aquela porta, muitos dos quais ainda continuam de pé por falta de lugar. O que será que faz com que uma homenagem a um cientista, a um professor, mobilize a sociedade nos seus mais diversos segmentos? Eu conheço pouco o Dr. Gilberto Schwartsmann e fiquei pensando, acredito que só dois motivos podem construir a mobilização das pessoas em torno de uma homenagem, que é uma coisa tão individual e particular, por mais que reflita a ação coletiva e social. Eu acredito que as pessoas para promoveram essa mobilização têm que ter, necessariamente, uma grande riqueza de vida privada e uma grande ação coletiva de vida pública. Fundamentalmente, essa é a composição de uma ação de correção privada e de dedicação à vida pública que faz com que as pessoas se sintam felizes por se sentirem contempladas com uma homenagem individual. Se é verdade que todas as pessoas que me antecederam, que já falaram tão bem, inclusive inibindo o orador que fala por último ou os últimos, falaram da ciência, das descobertas, da luta contra o câncer, mas não poderia deixar de falar numa tristeza que viveu recentemente a sociedade gaúcha - e quero fazer este registro porque esta é uma casa política - com a notícia de que este Estado liberou, através de incentivos fiscais, um total de 245 milhões de reais para uma empresa de tabaco. Quando se juntam aqui tantas pessoas que lutam pela vida é importante este protesto a uma ação que representa doença.

Quero dizer que conheço o Dr. Gilberto Schwartzmann, conheço o trabalho da fundação pelas divulgações, pela reportagem, pela imprensa, por aquilo que temos acompanhado à distância. Mas quero fazer uma referência: quando recebi o currículo do nosso homenageado na primeira frase havia o nome e a idade - e podemos fazer esta inconfidência, já que ele é tão jovem -: 44 anos. Comecei a ler parágrafos e mais parágrafos daquele currículo enorme e chegou um momento em que tive a sensação de que as folhas estavam grampeadas erradas, tal era a produção da vida de uma pessoa de 44 anos. Se não fosse por todos os motivos colocados, da sua abnegação, da sua competência, do seu compromisso, uma pessoa de 44 anos, que conseguiu fazer todos estes aperfeiçoamentos, conseguiu todas estas distinções, reconhecimentos, publicações internacionais, atividades acadêmicas, atividades de pesquisas, e ainda ter a concepção solidária de doar tudo aquilo que conquista, sob o ponto de vista do seu trabalho, à fundação a que pertence, já mereceria ser cidadão de Porto Alegre. Porto Alegre se orgulha com este seu novo cidadão. Muito obrigada.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE (Paulo Brum): O Ver. Lauro Hagemann está com a palavra pelo PPS.

 

O SR. LAURO HAGEMANN: Prezado Ver. Paulo Brum, que preside esta Sessão; ilustríssimas personalidades que compõem a Mesa. Uma referência especial ao Dr. Gilberto Schwartsmann, Cidadão de Porto Alegre, e ao Sr. Humberto Ruga, que representa nesta solenidade a SOAD; Sr.as e Srs. Vereadores; ilustre assistência; Senhoras e Senhores.

É muito tênue a divisa que separa as duas homenagens, a concessão do Titulo de Cidadão de Porto Alegre e a Concessão do Prêmio de Ciência e Tecnologia Mário Schenberg à SOAD, porque há uma identidade muito forte entre estas duas entidades. A entidade civil e a entidade pública.

Porto Alegre, hoje, se sente agradecida por poder, através de sua representação política, homenagear o Dr. Gilberto Schwartsmann e a SOAD, porque no mundo em que nós vivemos a revolução técnico-científica, ela hoje tem um papel singular e nós precisamos atentar profundamente para essa nova situação que se cria. A produção fordiana da industria metal ou mecânica está cedendo lugar a uma nova forma de produção, a uma nova visão da vida produtiva da sociedade humana. Isso se reflete em todos os campos da sociedade, e particularmente, hoje, aqui nós queremos nos dedicar ao campo da ciência, no terreno da Medicina, na questão da saúde humana, que é uma das coisas mais importantes, com as quais o homem deve se preocupar, porque, afinal, dessa saúde depende a continuidade da vida sobre o planeta.

Nesse sentido, o Dr. Schwartsmann representa uma inexcedível contribuição à Porto Alegre em poder colocar-se no mapa científico, tecnológico da Medicina do mundo, como um ponto de referência, e a SOAD no campo da pesquisa. Por isso, instituímos a cidadania, para premiar o cidadão, e o Prêmio Mário Schenberg, para estimular as novas concepções em torno da ciência e tecnologia.

A Cidade se engrandece em conceder o Título de Cidadão ao Dr. Gilberto Schwartsmann. É mais um a engrandecer, a enobrecer o cenário dos cidadãos ilustres desta Cidade. E essa cidadania é concedida justamente aos que não nasceram aqui. Esta Casa é composta de trinta e três Vereadores, a maioria não é nascida em Porto Alegre. Porto Alegre, para todos nós, é a referência básica, é o ponto de contato, é o ponto de apoio das nossas vidas. E isso é que nós queremos dizer com toda fraternidade ao Dr. Gilberto, que escolheu Porto Alegre como esse ponto de referência, como esse ponto de vida. Porto Alegre é, sobre todos os aspectos, uma Cidade admirável e amável. E isso faz dos cidadãos de Porto Alegre, cidadãos especiais.

Quanto ao Prêmio Mário Schenberg, ele foi instituído nesta Casa justamente para estimular as vocações técnico-científicas num mundo que hoje se envolve para este lado. Mário Schenberg foi um cientista, um físico nascido em Recife, mas que fez sua vida profissional e acadêmica na Universidade de São Paulo. Mário Schenberg era uma criatura diferente das outras, e tenho particular interesse em prestigiá-lo, já desaparecido, porque Mário Schenberg, além de ser um cientista notável, com contribuições enormes para física brasileira e mundial, era um homem, como o Dr. Schwartsmann, pela questão social. Mário Schenberg era comunista, foi deputado por São Paulo, pelo velho PCB, foi perseguido, cassado, proibido de lecionar, proibido de pesquisar, mas não se entregou. Esse é o homem que nós homenageamos com este prêmio, em cuja memória se deseja que outros cientistas, como todos aqueles que estão abrigados hoje na SOAD, e o Dr. Gilberto Schwartsmann é um deles, possam prosseguir para alavancar o progresso da nossa sociedade.

Porto Alegre sente-se honrada com estas distinções: com a SOAD, através do Dr. Ruga, e com o Dr. Schwartsmann como Cidadão de Porto Alegre.

Porto Alegre hoje acrescenta mais um ponto luminoso na sua existência. Muito obrigado por tudo o que fizeram. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Paulo Brum): Passamos ao momento mais esperado desta Sessão Solene que é a entrega do Diploma de Cidadão de Porto Alegre ao Dr. Gilberto Schwartsmann. Convidamos o Ver. Isaac Ainhorn, proponente desta homenagem, para que proceda à entrega do Título de Cidadão de Porto Alegre ao Dr. Gilberto Schwartsmann.

Passo Fundo que nos perdoe, mas agora também o Dr. Gilberto é um pouco porto-alegrense, um pouco nosso também de direito.

Convidamos para esta homenagem a esposa do homenageado, Sr.ª Eleonor.

 

(É feita a entrega do Diploma e do Título de Cidadão de Porto Alegre ao homenageado.) (Palmas.)

 

Convidamos o Ver. Pedro Américo Leal que proceda a entrega da Medalha de Porto Alegre ao Dr. Gilberto Schwartsmann.

 

(É feita a entrega da Medalha de Porto Alegre.) (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE (Paulo Brum): A Sr.ª Mônica Leal fará a entrega de flores à esposa do nosso homenageado.

 

(É feita a entrega de flores.) (Palmas.)

 

Convidamos o Ver. Pedro Américo Leal para que faça a entrega do Diploma relativo ao Prêmio de Ciência e Tecnologia Mário Schenberg à Fundação SOAD, na pessoa do Sr. Humberto Ruga, representando a Fundação.

 

(É feita a entrega do Diploma.) (Palmas.)

 

Agora nós ouviremos a manifestação do mais novo Cidadão Honorário Porto-Alegrense, Dr. Gilberto Schwartsmann.

 

O SR. GILBERTO SCHWARTSMANN: Autoridade, senhoras e senhores, muito obrigado, Vereadores Isaac Ainhorn e Pedro Américo Leal. Receber o Título de Cidadão Honorário de Porto Alegre é, para mim, uma grande honra, e ver a nossa Fundação SOAD, de pesquisa do câncer, que tenho a honra de presidir, ser agraciada com o Prêmio Mário Schenberg de Ciência e Tecnologia me deixa muito emocionado.

Eu gostaria de agradecer esta distinção e compartilhar este momento muito lindo da minha vida com as pessoas e as instituições que fazem parte da minha história. Muitas dessas pessoas estão aqui presentes, e isso me orgulha muito: a minha mulher, Eleonor; os meus filhos, Laura e Guilherme, meus pais, Simão e Maria; os meus irmãos, Carlos e Margarete; meus tios, primos sobrinhos, amigos, colegas, pacientes, ex-pacientes, todos os rostos que fazem a história da minha trajetória nesses anos; os meus amigos de infância, do Colégio Israelita Brasileiro, alguns que eu não via há talvez trinta e cinco anos, e que hoje estão aqui, aos amigos do Colégio Júlio de Castilhos, que também estão presentes, aos da Faculdade de Medicina da UFRGS, onde eu tive o privilégio de presidir o Grupo de Estudos em Medicina Interna e participar da Direção do Centro Acadêmico Sarmento Leite, onde também tive a honra de ser escolhido o orador da turma dos formandos de 1979, numa noite que jamais esquecerei.

Também agradeço por ter sido honrado com a Presidência da Associação dos Médicos Residentes do Hospital de Clínicas de Porto Alegre; por ter sido honrado com o cargo de Diretor do Programa de Novas Drogas da Organização Européia para a Pesquisa do Câncer; pela honra de ter integrado o Comitê de Pesquisa do Câncer da Grã-Bretanha e o Grupo de Pesquisadores do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos; por ter sido honrado com a Vice-Presidência da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica por dois mandatos. Ainda por ter sido honrado com a Diretoria para Assuntos Internacionais da Sociedade Brasileira de Cancerologia; por ter o privilégio de ser o Presidente do Conselho Fiscal do Instituto de Câncer Infantil do Rio Grande do Sul, o que me dá um prazer enorme, amigo Lauro Quadros.

Agradeço, também, por ter a presença dos meus grandes professores da Faculdade de Medicina da UFRGS, na figura do meu querido Prof. Pedro Gus, do Curso de Medicina da Universidade Luterana do Brasil, na presença do seu Coordenador, Prof. Luciano Moreira, e pela honra de fazer parte do seu corpo de professores; pela honra de ter aqui o Prof. Ellis Busnello, Coordenador do Curso de Pós-Graduação em Clínica Médica da UFRGS. Também pela honra de ter sido convidado para ser membro do Comitê Assessor da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.

Agradeço ao Prof. Carlos César de Albuquerque, ex-Ministro da Saúde e ex-Presidente do Hospital de Clínicas pelo apoio de sempre à Fundação SOAD, à Reitoria da ULBRA, por me confiar o cargo de Diretor do seu Centro de Câncer e acolher de forma muito generosa o nosso Programa de Pesquisa da Fundação SOAD. São 2.000m2 que uma Universidade cede à uma instituição de pesquisa sem fins lucrativos, para tentar desbravar as novas drogas anticâncer e buscar as soluções que o nosso querido Ver. Pedro Américo Leal e os demais Vereadores mencionaram há pouco.

Agradeço a S. Ex.ª Sr. José Serra, Ministro da Saúde, por honrar-me com o convite para integrar o Comitê para a elaboração do Programa Nacional de Combate ao Câncer, um grande desafio que tenho junto aos meus colegas; ao Prof. Roberto Esteves, da Universidade de Buenos Aires, pela honra de me conferir o Título de Professor Livre-Docente; a Associação Americana de Oncologia Clínica, por me eleger seu membro do Comitê Científico; ao meu querido Prof. Hiran Silveira Lucas, da Academia Nacional de Medicina, pelo apoio irrestrito à Fundação SOAD e por me honrar com sua presença nesta cerimônia, é um dos homens mais disputados do nosso País, na área médica. Ao Conselho de Curadores da Fundação SOAD por confiar a mim a sua presidência. Obrigado meu querido Humberto Ruga, Presidente do Conselho; Miguel de Lucas, Vice- Presidente. Pedro Butignole, Sergio Pellufo, Algemir Brunetto, Anna Accioly, Edmundo Marques, José Luís Fonseca, Lasier Martins, Mônica Leal Markusons, Regis Conte, Salim Daou Júnior, Hélio Wosssiak, Ricardo Malcon, membros do Conselho de Curadores da SOAD. A Direção Executiva da SOAD, Antonio Toffoli Baptista, Diretor-Secretário, André Geraldo Cirne Lima, Diretor-Tesoureiro e Heloísa Fontoura, Assessora Executiva. A Coordenação Científica da Fundação SOAD, Prof. Herbert Pinedo; Luciane Pons DiLeone, Coordenadora de Pesquisa Clínica; Adriana Brondani da Rocha, Coordenadora de Pesquisa Básica; Dr. Luís Fernando Moreira, Coordenador de Programas Cirúrgicos. As nossas queridas Secretárias: Rita, Rosana e Ana Luiza. Ao Dr. Denis Mans, pela imensa contribuição que tem dado ao nosso trabalho. Aos meus alunos que dão sentido ao meu trabalho.

Aos doutores que confiaram a mim a sua orientação nas teses de mestrado e doutorado, trabalho difícil, orientação chata, muitas vezes: Dr. Eduardo Sprinz, Dr. Belmonte Marroni, Mauro Horowitz, Paulo Ricardo Caramori, Bernadete Nonemacher, Paulo Naud, Adriana Brondani da Rocha, Marion Schengold, Marcelo Tiburi, Luiz Carvalho, Antonio Fabiano, Sérgio Roitmann, Ormando Campos, Alfredo Cataldo, Liane Roesing, Paula Polhmann, Luciane DiLeone, Ana Paula Caldas, Ana Cancela, Mauro Castro, Denise Faria, Rodrigo Vilaroel, Hugo Schunemann, Edson Paganetto, Lisandra Dal Lago, Nilton Xavier e Carlos Menke, meu aluno e professor, obrigado pela honra de terem escolhido a mim como o seu professor-orientador na suas teses de mestrado e doutorado. À Comunidade Israelita do Rio Grande do Sul, por me distinguir mais de uma vez com o Prêmio Destaque Comunitário. O Jornal do Comércio por me honrar com o seu Prêmio de Pesquisa Médica. O Comitê responsável pelo Troféu Obirici por me oferecer esta distinção, que muito me honrou; A direção do Albergue João Paulo II, às minhas crianças que estão ali, por me dar a honra de participar das suas atividades assistenciais na Cidade de Porto Alegre. Obrigado ao Padre Lebanor por ter-me aproximado de pessoas tão generosas. Obrigado por me proporcionar o Cláudio Caetano, por me mostrar que é muito, muito fácil dar amor para os outros. Ao Grupo CECUNE de Estudos da Cultura Negra, por me dar o privilégio de contribuir com essa nobre causa. Aos meus amigos que pesquisam, produzem e amam o vinho produzido na serra gaúcha, pelo privilégio da companhia. Aos meus companheiros da boa culinária e da boa música, que alimentam a minha alma mensalmente nas nossas noitadas na Arca. Não consigo resistir, ao meu Grêmio Futebol Porto-alegrense, que me faz sofrer hoje, mas que já me deu muitas alegrias. Aos meus colegas e funcionários do Instituto Kaplan, pelo carinho com que cuidam dos meus pacientes. Aos queridos Lasló Krausz e Iracy Zaffari Santa Maria, que, infelizmente, já partiram, meus queridos pacientes e entusiastas do projeto de criação da Fundação SOAD, que Deus os abençoe onde eles estiverem. Aos senhores Hélio Wosiak, pela sua presença, Jorge Johanpeter, Nestor de Paula, Alberto Isdra, Zolmino Strazas, Grupo Billy, que vejo aqui bem representado, TELET, VASP, Bibi Calçados, por acreditarem na Fundação SOAD. Léa e Pedro Botignole, meus amigos de sempre. Maria e Ramon Vega, por tantas horas lindas, Professor Paulo Pizao pela lealdade de sempre. Ao amigo Prof. Algemir Brunetto pelo companheirismo de todas as horas e pela honra de poder construir a minha carreira profissional ao seu lado. Aos meus avós, que saíram da Europa há quase noventa anos e se instalaram aqui no Rio Grande do Sul. Eles ouviam falar muito de um Brasil cheio de oportunidades e sem preconceitos, um lugar onde poderiam viver e criar os filhos dignamente. Vieram para cá e realizaram o seu sonho. Formaram uma grande família. Muitos membros desta família estão hoje aqui presentes nesta cerimônia.

Gostaria de finalizar contando apenas uma história de família. A minha avó Clara - pois meus outros avós faleceram quando eu era ainda muito criança - era uma mulher muito interessante. Foi homenageada pela Biblioteca Pública pelo amor que dedicava aos livros. Lia mais que as outras pessoas, mesmo não sendo o português o seu idioma de origem. Ela alimentava a minha imaginação com as histórias que contava sobre a sua infância na Europa, a 1ª  Grande Guerra, a Revolução Russa e o que foi a saga da imigração ao Brasil. Ela vivia com os avós em uma fazenda na Lituânia. Havia sido prometida em casamento pelo avô a um primo, que vivia na Austrália, com dote e tudo. Um dia, minha avó, Clara, foi à cidade, e quando passava em frente de uma sapataria, ela escutou uma linda voz masculina que cantava. Ela espiou para ver quem era e o seu olhar encontrou os olhos azuis de um jovem, novo na cidade, o qual ela não nunca havia visto: era o meu avô, que havia chegado da Alemanha com um grupo de teatro amador, após o final da Primeira Guerra. Eu não preciso dizer para os senhores que foi amor à primeira vista. Mas havia o tal primo da Austrália e ela resolveu bater pé, contrariando a vontade de seu avô e disse que casaria por amor. O seu avô, meio contrariado, como amava muito a sua netinha Clara, acabou cedendo e, de fato, quem acabou sobrando na história foi o tal primo da Austrália. Como castigo, a minha avó recebeu, às escondidas, um dote que era apenas uma vaca de leite e algum dinheiro. Mas o que importa é que o amor acabou vencendo. Os apaixonados, a minha avó e o meu avô, vieram tentar uma vida nova no Brasil. Portanto, a história da minha vida e dos meus familiares que estão aqui presentes, começou com uma bela história de amor que daria, na certa, um lindo romance.

Eu cresci em uma casa cheia de alegria e de muita música, com uma família maravilhosa. Desde criança, nas festas de família, todos cantavam, tocavam instrumentos e recitavam poesias. Para os meus amigos de hoje, que às vezes não entendem - não é Motta? - como eu posso saber tantas letras de tangos e boleros, esse é o meu segredo, ou seja, eram as nossas festas de família e o talento da minha mãe, que sabia todas as letras.

A minha vida de casado foi linda desde o primeiro dia. Nós vivemos em vários países, conhecendo pessoas e lugares maravilhosos. A família da minha mulher, a Eleonor, que está aqui presente, é tão bonita quanto a minha. Hoje, nós somos uma só família. A Eleonor deu-me o que tenho de mais precioso: a Laura e o Guilherme. Os senhores aqui presentes fazem parte da história de minha vida. Eu viajei pelo mundo e vivi no exterior durante muito tempo, mas sempre deixei um pedaço do meu coração aqui em Porto Alegre. Agradeço por tudo o que de bom a vida já me deu. A minha paixão pela Cidade de Porto Alegre é meio parecida com aquela história de amor da minha avó Clara, naquela sapataria da distante Lituânia: amor à primeira vista.

Obrigado pelos amigos que fiz nesta Cidade e pela honra de poder conviver com os senhores. Muito obrigado pelo Título de Cidadão de Porto Alegre.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Paulo Brum): O Sr. Humberto Ruga, Presidente da FEDERASUL e Presidente do Conselho de Curadores da Fundação SOAD de Pesquisa do Câncer, falará em nome da Fundação SOAD.

 

O SR. HUMBERTO RUGA: Ex.mo Sr. Presidente, em exercício, da Câmara Municipal de Porto Alegre, Ver. Paulo Brum e demais componentes da Mesa, homenageado, meu amigo Gilberto Schwartsmann. Minhas Senhoras, meus Senhores, meus amigos.

Era minha intenção fazer um discurso, mas eu vou abreviar, porque, para mim, este é um momento de emoção, quando vejo na Mesa pessoas que lutam e que trabalham pela causa social. Vou começar pelo meu amigo Lauro Quadros, há mais de quarenta anos, com o Gilberto Schwartsmann, com o meu colega de Diretoria e Presidente da Fundação de Deficientes Físicos do Rio Grande do Sul, Ver. Paulo Brum.

Eu quero fazer um agradecimento especial à Câmara de Vereadores de Porto Alegre, especialmente ao Ver. Isaac Ainhorn e ao Ver. Pedro Américo Leal, porque, neste momento, começa a se desmistificar uma coisa que existe no nosso Estado, que é proibido fazer sucesso neste Estado. Este sentimento que existe numa grande parte dos gaúchos é uma coisa que, a mim, afeta, particularmente, este sentimento de que não se pode fazer sucesso. O reconhecimento prestado por esta Casa a alguém que vem fazendo um trabalho silencioso, que faz sucesso lá fora, mas que, aqui, poucos conhecem e que, hoje, a Câmara de Vereadores de Porto Alegre resgata, é muito importante, para alguém que se dedica às causas sociais. Indiscutivelmente, a história da SOAD é a história de Gilberto Schwartsmann. Por isso, eu quero abreviar, dizendo que a presença de vocês todos e daqueles que colaboraram com a SOAD é fundamental, não só para o sucesso do Rio Grande do Sul, mas para o sucesso do nosso País. Não devemos ter vergonha de dizer que temos gente capaz nesta Cidade, neste Estado. Espero que a Câmara de Vereadores de Porto Alegre continue fazendo o que fez com o nosso Professor Gilberto Schwartsmann, homenageando aqueles que se destacam em qualquer ramo, independente de cor, sexo, ou partido político. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Paulo Brum): Senhoras e senhores, nós ao finalizarmos esta Sessão Solene queremos convidar a todos para que em pé ouçamos o Hino Rio-Grandense, sob a regência do mestre de música, Primeiro-Sargento Sílvio Luiz da Silveira Machado.

 

(Procede-se a apresentação.)

 

Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão.

 

(Encerra-se a Sessão às 19h18min.)

 

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